Como parte do processo de concepção da 8a Bienal do Mercosul, nós, curadores, viajamos pela região de Rio Grande do Sul com itinerários e por mais de vinte cidades do interior, realizando pesquisa de campo e visitas em ateliês. Essas experiências de viagem, vivenciadas por todos – vários provenientes de outros países – fez-nos refletir acerca da noção de território e sua vinculação in situ com a prática artística no contexto de produção de obra, e em como essas chegam a ser apresentadas em uma bienal sulamericana. Tal interesse levou-nos a concretizar essa atividade curatorial no território e hoje aparece refletida no componente que chamamos Cadernos de Viagem.
Cadernos
de Viagem consistiu em distribuir pela região do Rio Grande do Sul nove
artistas cujas práticas habituais envolvem a viagem, a paisagem e/ou o trabalho
com comunidades. Cada um deles realizou uma rota específica durante três
semanas, em média, deixando que a experiência da viagem, a paisagem e as
interações sociais e/ou culturais ditassem o caminho pelo qual fosse
desenvolvido seu projeto. Não foi o artista quem levou a obra planejada e foi
para o território a fim de desenvolvê-la, mas, sim, o contrário: foi a
especificidade do lugar e a experiência vivida pelo artista durante sua viagem
que condicionou os resultados. Finalizadas essas três semanas, cada um realizou
uma mostra no local de seu destino, exibindo o resultado dos processos
artísticos ocorridos durante a viagem e apresentando sua obra e experiência
nesse lugar para a comunidade. Depois de já ter realizado a viagem e retornado
a seus ateliês, os artistas desenvolveram as obras que serão apresentadas no
Cais do Porto.Caderno, diário ou agenda de viagem são os lugares em que
aparecem anotações, desenhos e experiências, recolhidas como reflexão e
memória. Em Cadernos de Viagem entendemos a ideia de caderno num sentido amplo,
pois o artista contemporâneo realiza esses distintos processos de através da
fotografia, do vídeo, além do desenho e das anotações textuais. Nosso interesse
é evidenciar as diversas maneiras como os artistas documentam sua experiência
de observação e vivência no território, e como incorporam também outras
soluções para suas obras de arte. É o caso dos artistas que trabalharam sob um
olhar focado no científico, no sistemático e na coleta de dados, ou dos que
deram ênfase à paisagem ou à representação e, por último, dos que se vincularam
à etnografia e à antropologia para produzir obras orientadas para o social.
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